terça-feira, 17 de agosto de 2010

Duelo matinal

1.
Coreografia de espadas
mãos em duelo matinal;
tecelãs penteiam madeixas,
batem a cinza do sisal.
Mulheres campeiras
lambem foices, comem folhas,
baçaço, colhem cabeleiras.

2.
As fibras são vísceras
tomando banho de lua
escorrendo nos varais;  
espantalhos sem corpos:
saias dançando valsa
na corda-bamba, orixás.

3.
Na feira do sábado
a corda bruta enrola-se
à pele de sacos e fardos;
na festa do prado:
voar de serpentes
laçando cavalos.

4.
Cordas/correntes:
de enforcamento
de salvamento;
cabrestos de condenados,
aviamentos, adereços
em tornozelos de escravos.

5.
Vassouras são diaristas
espanando chão/céu da casa;
brancas escravas, bruxinhas
sem poderes nem asas,
escondidas atrás da porta: 
sujas, tristes, sozinhas.

4 comentários:

  1. Que lindos dizeres sobre a vassoura...! Elas já não são simples vassouras...

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  2. Borges, vou levar esses poemas pra sala de aula. Vou lê-los com meus alunos. Abraço, João

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  3. Muito bom ouvir isso: valorosa visita. Obrigado

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  4. E vc Nivaldete, grato pela visita iluminada. Bjs

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