quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Essa Mulher
O Lp Essa Mulher, lançado em 1979, completou 30 anos em julho de 2009.
                                                                                                  
Há momentos em que - além da referência filosófica -, rememoro a trajetória artística de Elis Regina: recorto fotografias publicadas, faço colagens, vejo imagens na TV e toco velhos discos na vitrola...
Essa mulher de sorriso largo tinha a alegria do carnaval: voz afinada, braços agitados na batucada, Hélices girando, chamando o samba. Embora, contextualmente, seu canto fosse vinculado à brasilidade, incorporava-se e dialogava com os demais ritmos e tendências musicais de qualidade.
O palco era um lugar seguro, onde ela armou a lona do circo e entrou no picadeiro: o bobo da corte não entrega os guizos... Baixinha e bonita como as violetas, mas quando cantava erguia-se, gigantesca.
Rebentava-se roseira n'algum jardim em primavera, às vezes em erupção: explosiva, pimenta ardendo, acesa. Podia-se até dizer que ela se defendia com palavras ríspidas e imediatas, esbanjando munições cotidianas, mas seu projeto musical ia além das trivialidades, dando origem a uma artista comprometida com a humanidade, daí a necessidade de prosseguir contestadora e valente.
Tinha um comportamento arrepiado, mas abria brechas à ternura: revelava-se fortemente engajada à sociedade e contribuía para a renovação cultural do planeta. Era mutante, raro rebento de vida: desabrochava-se para não ser casulo.
E ninguém ousava detê-la na velocidade voraz de imprimir sua história. Acreditou em seu talento e foi à luta: cantava em ritmo de atropelar. E assim seguiu invencível, indomável, fez do canto sua verdadeira forma de  expressão.

Pontos acesos






























Por aqui, nessa região do curimataú, qualquer sinal noturno clareando o céu, dizem logo: "Isso vem da 'Barreira do Inferno' ", apontando para Natal-RN. Pode cair espaçonave, que simplificam: "é foguete"... Mas no inverno, se um vaga-lume passar por alguém, causa espanto e alarme: "Um disco voador..."
Estudantes que faziam o trajeto noturno de Nova Palmeira a Picuí-PB (e vice-versa), garantem que por várias vezes foram perseguidos por Óvnis, em retas e curvas da estrada:   esses objetos voadores não identificados, possivelmente, vêm de planetas do  nosso sistema solar ou de longínquas galáxias. Nos relatos do livro "Como Escapei do Triângulo das Bermudas", o autor afirma que há uma sucção nas águas oceânicas daquela região,  onde ocorrem os desaparecimentos: é um longo documentário... Essas luzes mudavam de cor e de tamanho e  muita gente ia fazer vigília no rio "Araújo", município de Picuí-PB. Outros grupos  se posicionavam na trajetória... Iam acompanhar a caminhonete Chevrolet, chamada de "Muda", quando a estrada era de barro e pedregulho. E as visões não partiam de uma só pessoa, até o motorista confirma o acontecimento. Não puderam testemunhar o fato para o público curioso: tudo ficou como história mal contada, exagero e sensacionalismo da juventude estudantil.  



II

Noite dessas, por volta das 20:00h, depois da "Serra Aguda", município de Nova Palmeira-PB, sentido norte/sul, um fusca a 40km/h, desce a primeira ladeira e uma luz de cor vermelha, esférica e pequena, pousa à esquerda, a poucos metros do automóvel e não se deixa ultrapassar: continua proporcionalmente adiantada. O pensamento era o mais veloz: a princípio imaginei ser  as luzes dos faróis refletindo em chifres de boi ou em olhos de coruja, mas a mais ou menos 300m resolve decolar e se alonga, cria calda de foguetão e vem por cima do carro, invertendo o sentido. O motorista não fez alarme, continuou a dirigir, mudo. E eu na expectativa, confuso,  mas atento à cena: "Viu essa luz na pista"? Ele responde tenso e intuitivamente: "Isso são fogos que vêm da festa da padroeira de Pedra Lavrada-PB". Quer dizer: ilusão de ótica, tocaias magnéticas, oscilação de raciocínio, porque a cidade para onde nós nos dirigíamos, estava a uma distância de dez km, em meio a  morros, serrotes e outras elevações na terra; seria impossível a consideração dessa hipótese. Avistam-se fogos de artifício, mas naquela ocasião não surgiriam em nossa frente. Levam-se em conta ainda, os detalhes  da trajetória do objeto e a sobriedade das testemunhas. A observação que faço agora, como conclusão, é a seguinte: concretamente um objeto pousara no chão com algum objetivo e recebe comando para decolar, então houve inteligência. Esse acontecimento não pode nunca ser tratado, pelos céticos, como fantasia ou invenção: "Há mais mistério entre o céu e a terra..." - alerta Shakespeare.



III

Era claro de pouco sol e a luz era cor de prata. Há cinco anos atrás, eu viajava com  outra pessoa, na estrada que liga Barra de Santa Rosa-PB ao Brejo paraibano. Depois do trevo de Cuité-PB, um pequeno sinal luminoso e alongado – em forma de folha prateada –, começa a se mexer, saindo do interior da terra seca, num descampado de barro vermelho: sem se avistar cristais ou objetos metálicos como justificativa. E ergue-se ganhando altura, multiplicando-se depois, formando hélices revoltas e inventando ventania no silêncio da planície.  Eram flexíveis e delicadas como tecidos de seda, um semblante ligeiramente gasoso e nada de folhas cortantes de alumínio.
A capoeira se povoara de esparsos pés de agave, com total ausência de lajedos, donde pudesse existir vestígios de extração de minérios.  Mesmo tendo, a mica, brilho e desfolhamento, não seria uma aparição extraordinária. Aqueles braços esvoaçantes dançavam um balé sobrenatural. Se fossem avermelhados, seriam labaredas de coivara ou despertar de vulcão. À beira-mar, seriam jangadas em campeonato de domingo e no mês  de fevereiro, alegorias de carnaval. Mas estávamos em plena caatinga: vegetação rasteira, cinzenta, num momento em que o sol se escondera, estava claro,  porém sem intensidade. Mas aos poucos, vão murchando, se enterrando onde nasceram. Aquela revelação me deixou com um olhar de perplexidade e impacientemente me adiantei: "Viu isso?" "Sim", respondeu quem estava ao volante. Depois seguimos pensativos, duvidosos e mudos porque não fora ilusão. Mais adiante pensamos em várias hipóteses: será que espírito se manifesta dessa maneira? Fogo-fátuo foi a mais provável.
IV

Na cidade de Nova Palmeira, quando um aeroplano despontou na serra, voando baixo, também disseram que era coisa do outro mundo. Mas era estratégia de políticos sobrevoando o pasto eleitoral: chuva de bandeirinhas, santinhos e vassouras de Jânio Quadros.

Um carro de passeio achatado, chamado "Baratinha", se encobria na poeira e nas longas ruas de Aveloz, fazendo muita gente se esconder nas juremas e marmeleiros, amedrontada.  E o medo de  automóveis na estrada perdura até hoje, porém, ligado a disseminação da violência.

E qualquer dia pousarão os marcianos e serão assediados pela população, pedindo autógrafos. Ou irão todos a Marte, como fizeram os palmeirenses mais corajosos num outro período eleitoral: o candidato a deputado Estadual era piloto de um avião Teco-teco e oferecia vôos panorâmicos aos  eleitores.


V
Terra-esfera flutuante, pista-pouso de pássaros lunares, cosmonautas e seres de outras rotas espaciais: o ar está cheio desses seres metálicos, quase apocalípticos, que invadem a privacidade e a paz celeste. É tempo perdido: vasculham, mas nada avistam, apenas a normalidade do cosmo. Quem desbrava o universo não são os caçadores: eles soltam seus robôs adestrados para farejarem o solo dos planetas, mas depois se engancham nos mistérios, "morrem de sede" e viram lixo espacial. Astronautas têm medo de altura, mas vão à Estação MIR, se extasiam e regressam a seu planeta: só Deus tem a visão e o controle total  do universo,  mas os homens insistem em voar mais alto.
O exercício de meditação me ensinou a reduzir a terra, sem precisar de viagem espacial. Não consigo ser somente terrestre, se tenho todo o cosmo pra desvendar: eu sondo(a).


VI
Numa tarde calma de verão, eu me sentei debaixo dos coqueirais da Praia do Cabo Branco, em João Pessoa-PB. O céu estava azul com longínquos torreões de nuvens na linha do horizonte. Eu as olhava, mas sem a ansiedade de trazê-las, apenas com a contemplação natural da paisagem. E a miniatura de um navio cargueiro deslizava em alto mar, rumo ao cais de Cabedelo. Não demorou muito, num mudar de vista, toda aquela imensidão se transportara e "caíra sobre mim", que eu quase virei da cadeira para trás com o peso sufocante do universo. Até o mar se derramou nos meus pés. Mas não teria sido eu quem fora de encontro às  nuvens? Depois que retomaram a posição anterior, foi quando avaliei bem a distancia... Não partiu de mim desejar essa experiência, no propósito de uma meditação astral. Tomando o assunto somente como exemplo: orienta-se ao indivíduo para não se amedrontar com a sensação prazerosa de desprendimento físico. Eu queria permanecer naquele estado transcendental, mas o medo desvencilhou-me daquela visão tão fascinante, inesperada e inexplicável.



VII


Crianças são anjos que pacificam os lares; formam e vão dar continuidade à família. Diante dessa perspectiva de enlace, sem se questionar o passo a passo da criação, são bem aceitas, desejadas: "Quero a casa cheia de filhos..." É um dizer em tom de juras de amor. O nascimento é a inclusão definitiva na vida e estatisticamente é um cidadão a mais, o resto é trajetória, história.
Mas, falando de crianças, um fato interessante, dito por muitos mais vividos, é que elas veem anjos, silhuetas, gnomos, vultos e outros movimentos. Eu já completara cinco anos de idade, quando vi vários  anjos aparecerem  no céu, às 14:00 horas: a visão preenchia o lado norte.  Mas puxando pela memória, não ouvi cânticos de louvor nem anúncios de trombetas: não eram figuras dinâmicas, aladas, que executassem dança nem outra coreografia. Também não estavam fazendo picnic, sentados sobre o algodoal das nuvens, onde só tinham o céu como guarda-sol. Hoje distingo bem aquelas imagens avermelhadas. Talvez uma pena espiritual tenha sido usada pelo pintor sacro, mas não havia moldura, fizera esses desenhos sobre o pano azul do universo.













Dança dos astros







Nesse dia tivemos que almoçar às pressas, por que ao meio-dia já estava escuro: o sol estava sendo engolido pela lua.  Tudo era visto à meia luz (ou à meia-lua).Viam-se os astros passeando, se roçando, no céu.  E ninguém explicava bem o que era, a assombração estava no rosto de todos. "Está nas Escrituras: são sinais do fim do mundo" - afirmava um vizinho. Lembro que meu pai disse a palavra eclipse: fenômeno tratado com medo pelos mais antigos, que tinham uma visão lendária sobre o assunto. 
No início do século XX, em 1914, o fenômeno foi total  e naquele mês, confirmando o mal presságio: teve início a 1ª Guerra Mundial. 
Ele era adolescente em 1939, morador da zona rural: vaqueiro aboiador, amansava boi a ferrão, tangia o gado à pastagem, puxava peito de vaca leiteira e outras obrigações da vida campestre... Relatou-me o camponês, que nesse dia muitos costumes noturnos foram antecipados: no terreiro, o galo se apresssava com seu canto urgente, recolhendo suas esposas ao poleiro, acendeu-se fogão à lenha e pôs-se mais querosene às lamparinas. As horas eram confusas e as trevas pareciam ser apocalípticas. Nessas comunidades rurais as informações  chegavam no "disse-me-disse": o rádio ainda era um veículo de comunicação precária, viam esses sinais no céu como se fossem a instalação do caos... E novamente se ouviu rumores de guerra: os nazistas, sob o comando de Adolf  Hitler, invadem a Polônia, iniciando uma sequência de atrocidades,  culminando com o genocídio de milhões de judeus, minorias étnicas e religiosas. 
Mas naquele dia, o eclipse anular do sol, transformou-se em espetáculo: a meninada correndo,  apontava estrelas, avisava a vizinhança... Hoje é que vemos com normalidade a dança dos astros, porque eles também copulam.



segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Rosto d'aurora



Desde menino escuto falar em cometas. No ano de 1970, meu pai me acordou de madrugada, por volta das 04:00 horas, para avistar um cometa que se estendia no nascente: tinha uma calda quilométrica, um emaranhado de neurônios luminescentes e núcleo de estrelas multicolores, ilustrando ainda mais o rosto d'aurora.  A luz penetrante do sol, foi ofuscando aquela exibição. Vista com olhar infantil, sem maiores êxtases na retina, a imagem me arrepiou: indaguei muito meu pai sobre aquela aparição inusitada. "Experência dos mais velhos: esse ano poderá ser de seca ou  muito doentio", explicou ele, que dependia da chuva e da terra... Aquele claro, ainda hoje, se acende  na memória. Em 1986, quando teve aquela mídia toda com a aproximação do Cometa Halley, compravam-se lunetas e telescópios,  em todo o planeta formavam-se grupos em vigílias. No Brasil foi visto por poucos, no entanto, sondas espaciais de três continentes o saudaram. E da terra, quem o viu se espantou, por que os cometas - supersticiosamente -, vêm acompanhados de acontecimentos marcantes ou catastróficos, desde a antiguidade.  Astronautas abrem champagne em "camarote" espacial e assistem  ao espetáculo: mais parecido com o sol desabando, arrastando o universo. O nome veio do astrônomo inglês Edmond Halley, que calculou sua trajetória orbital. Mas os cometas regressam e os homens se vão... “Quando os mendigos morrem não há cometas à vista: os próprios céus anunciam a morte dos príncipes” - acrescentou William Shakespeare.






sábado, 17 de outubro de 2009

Nailza Henriques, essa mulher

Nailza: no quinquagésimo andar da vida


Deus dá o sopro inaugural e logo estreamos a vida. E quando nascemos, viramos unanimidade, acalentados por dengos e privilégios: sempre há alguém nos protegendo...
Crescemos sob o olhar orientador dos pais, além das bênçãos ditas em cada amanhecer: filho é mesmo uma dádiva divina! Desde os primeiros batimentos cardíacos a todo período uterino, o aprendizado é por sensoriamento. Há os que nada ensinam, relapsos com as crias que lhes foram confiadas. Outros ensinam errado, em meio a graves mazelas emocionais ou sociais. Há ainda os que exageram na formação dos filhos, talvez dando tudo antecipadamente, mas todas as informações são basilares e reproduzidas, desde a estreia à conclusão do ser. Há um dizer que cabe bem nessa avaliação: “Não se deve dá o peixe tratado, mas o anzol, para que se aprenda a pescar...” Mas o mundo é uma cilada, e um aprendiz tem que andar devagar, testando o chão, mãos nas  paredes, galgando, até ir-se pela casa inteira, e assim escrever sua história pela vida afora. Às vezes a tinta que usamos se acinzenta e falha, mas temos que reabastecê-la e prosseguirmos escrevendo o diário/vida, que só nós podemos acrescentar mais anotações...

Nailza Henriques, essa mulher, destaca-se no cotidiano e vai-se pela vida: vivendo o presente e escavando o futuro.  E se já bebeu vinho do Porto em solo lusitano, um dia ela chegará a Marrakech, a cidade vermelha e passeará pela sua Medina. Mas não saberá viver sem mostrar o rosto: a burca?  Um dragão de hena se enrolará em seu braço, tatuado?  Avistará o sol extasiante  do deserto  e calar-se-à em reza: sol, um dia, já foi Deus.  Ah, lá? E trará lindos tapetes,  almofadas e vasilhas de latão, tudo para decorar sua maison, a ser construída  num condomínio  encravado às serranias da terra-mãe. Há uma tendência à liderança, por isso se integra à sociedade,  até relacionar-se com o mundo. E o legado familiar é um forte traço, perceptível em seu dinamismo e comportamento: daí a derivação maternal de proximidade: Nailza filha de Nadilza. O trabalho ramifica seguidores cadastrados, sobretudo pela atuação no ramo de cosméticos  e perfumaria. Tem faro aguçado - distribuidora de aromas e exímia negociante -  adicionado à capacidade de agrupar-se, um ser humano sempre em evolução. A competência é o maior componente para sua permanência na atividade, refletindo, positivamente, quando na organização da vida.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O vento u(i)va























O vento frio uiva na serra
quebrando o silêncio
do vinho sobre a mesa:
desce a galope, sem rédeas,
vadio, avarento e solitário
recitando um monólogo louco.
A ventania é um noticiário
que corta  a noite, sem rumo.
















Pão diário


















Massa am(assa)da
em descanso vesperal:
milagrosamente
amanhece multiplicada
no bojo do alguidá,
que mãos maternas
vão modelando
o pão diário: ritual
de filhos em volta
da mesa matinal.






segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dia-a-(dia) da criança


O dia-a-dia de algumas crianças pobres: elas têm idade de crianças e obrigações de adultos. Depois dos cinco anos de idade, os meninos são presenteados com uma enxada amolada: vão à roça limpar o mato atrevido, que impede o crescimento da lavoura, onde passearão pelas ruas do milharal, alisando os cabelos das bonecas de milho. No mês de junho, no adolescer das espigas, é quando eles ousam despi-las, em ritual de colheita, não de núpcias:  deitam-nas no leito quente das fogueiras, aquecendo-as, embelezando-as para festa de São João.
À tarde, amparados pelas sombras, tiram uma madorna sobre o chão forrado com bisacos de estopa, comem rapadura de engenho (água na jarra), fazem os mimos derradeiros aos caules e voltam com feixes de rama: os bichos também choram... Outros são sentinelas em carvoeiras, olarias (alarmam incêndios) e no inverno estreiam novos galões de zinco.
As ir(mães) não dão o peito, mas dão colo, mamadeira de leite morno, mingau, trocam frauda e balançam rede... "Eles são filhos de criação dos irmãos mais velhos", dizem os mais próximos. Essas meninas nem brincam de casinha, porque já têm a casa imensa e seus afazeres... Algumas brincam "de bonecas" na normalidade da infância, mas todas imaginam um lar: improvisam móveis, acendem fogo (trempes de água a ferver) e batizam os brinquedos.
Mamulengos, bruxas de pano, bonecas e sabugos de milho, formam a família imaginária: esses estranhos vizinhos são nomeados parentes.
E  vão adquirindo uma visão maternal, têm uma forte tendência ao casamento prematuro: o desejo de serem mães é um projeto que cedo se inaugura.

domingo, 4 de outubro de 2009

La cantante del mar


Mercedes Sousa

Alfonsina Y El Mar

Composição: Ariel Ramirez / Felix Luna

Por la blanda arena
Que lame el mar
Su pequeña huella
No vuelve más
Un sendero solo
De pena y silencio llegó
Hasta el agua profunda
Un sendero solo
De penas mudas llegó
Hasta la espuma.
Sabe Dios qué angustia
Te acompañó
Qué dolores viejos
Calló tu voz
Para recostarte
Arrullada en el canto
De las caracolas marinas
La canción que canta
En el fondo oscuro del mar
La caracola.
Te vas Alfonsina
Con tu soledad
¿Qué poemas nuevos
Fuíste a buscar?
Una voz antigüa
De viento y de sal
Te requiebra el alma
Y la está llevando
Y te vas hacia allá
Como en sueños
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar.
Cinco sirenitas
Te llevarán
Por caminos de algas
Y de coral
Y fosforescentes
Caballos marinos harán
Una ronda a tu lado
Y los habitantes
Del agua van a jugar
Pronto a tu lado.
Bájame la lámpara
Un poco más
Déjame que duerma
Nodriza, en paz
Y si llama él
No le digas que estoy
Dile que Alfonsina no vuelve
Y si llama él
No le digas nunca que estoy
Di que me he ido.
Te vas Alfonsina
Con tu soledad
¿Qué poemas nuevos
Fueste a buscar?
Una voz antigua
De viento y de sal
Te requiebra el alma
Y la está llevando
Y te vas hacia allá
Como en sueños
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar.