domingo, 25 de abril de 2010

Barbeiro-homem

Falo de homem trabalhador
aparador de cabeleira, crina


não de inseto que ferroa,
aplicador de veneno, vacina.

Fila de homens sentados,
espirrando, dando escarros:

água de cheiro, pó na gola
homem-barbeiro de mercado.

Barbeiro fabrica espuma,
beiço de navalha amola;


barbeiro, esse que corta,
não o que sangue suga.

Barbeiro mexe misturas:
água, breu, álcool, lavanda.

Barbeiro capinador
apara o mato da barba,

puxa o arado à roça
esfola o campo da cara.

o divã, a faca, o assassino;
homem com pele de suíno.

imagem: 3.bp.blogspot.com






























quarta-feira, 14 de abril de 2010

Carmem Miranda T'aí
 

Dia raiando na varanda:
onde estão os galos?
Carmem Miranda t'aí
na vitrola do terraço:
“o Tico-Tico alí,
o Tico-Tico lá..."
O Bentivi se enciuma
com aquele canto fino
e voa lá pra carnaúba.















sexta-feira, 9 de abril de 2010

Luz-ia na estrada

















                                    
pensando em Luzia Mercês do Amaral


"Luzia": zoada de voz, à porta.
Carrega rudes ferramentas
e uma lua no cabelo: diadema.

Desertava-se na madrugada:
léguas de caminhos ermos,
vencidos por ladainhas, terços.

Luas desenhadas em poças
clareiam rastros noturnos;
estrada branca de aurora. 

Solitário claro de cachimbo
em escuridão de veredas:
tocha acesa de pirilampo.

Casa de poucos troços:
colheres, pratos baratos,
pote-fonte, água dormida.

Altas paredes entisnadas,
bafejadas de lamparinas:
filho-flor desabrochando.

Nascimento, vida, estreia:
chaleira de água fervente,
banho inaugural em tigela.

Camarinha: aleitamento,
legado de vestes de tricô,
cantigas maternas, dengos.

Rede-concha modelando
crânio infantil: esférica
forma, alheia à estética.

Região povoada por comadres:
em missa, feira do domingo,
conversa com velhos conhecidos.