sexta-feira, 9 de abril de 2010

Luz-ia na estrada

















                                    
pensando em Luzia Mercês do Amaral


"Luzia": zoada de voz, à porta.
Carrega rudes ferramentas
e uma lua no cabelo: diadema.

Desertava-se na madrugada:
léguas de caminhos ermos,
vencidos por ladainhas, terços.

Luas desenhadas em poças
clareiam rastros noturnos;
estrada branca de aurora. 

Solitário claro de cachimbo
em escuridão de veredas:
tocha acesa de pirilampo.

Casa de poucos troços:
colheres, pratos baratos,
pote-fonte, água dormida.

Altas paredes entisnadas,
bafejadas de lamparinas:
filho-flor desabrochando.

Nascimento, vida, estreia:
chaleira de água fervente,
banho inaugural em tigela.

Camarinha: aleitamento,
legado de vestes de tricô,
cantigas maternas, dengos.

Rede-concha modelando
crânio infantil: esférica
forma, alheia à estética.

Região povoada por comadres:
em missa, feira do domingo,
conversa com velhos conhecidos.


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