Luz-ia na estrada
pensando em Luzia Mercês do Amaral
"Luzia": zoada de voz, à porta.
Carrega rudes ferramentas
Carrega rudes ferramentas
e uma lua no cabelo: diadema.
Desertava-se na madrugada:
léguas de caminhos ermos,
vencidos por ladainhas, terços.
Luas desenhadas em poças
clareiam rastros noturnos;
estrada branca de aurora.
estrada branca de aurora.
Solitário claro de cachimbo
em escuridão de veredas:
tocha acesa de pirilampo.
Casa de poucos troços:
colheres, pratos baratos,
pote-fonte, água dormida.
Altas paredes entisnadas,
bafejadas de lamparinas:
filho-flor desabrochando.
Nascimento, vida, estreia:
chaleira de água fervente,
banho inaugural em tigela.
Camarinha: aleitamento,
legado de vestes de tricô,
cantigas maternas, dengos.
Rede-concha modelando
crânio infantil: esférica
forma, alheia à estética.
Região povoada por comadres:
em missa, feira do domingo,
conversa com velhos conhecidos.
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