Elis
Regina Carvalho Costa, nasceu em Porto Alegre (RS). Nesse início de ano ouve-se falar mais dessa mulher, que em 19/01/1982, subitamente, nos deixou.
A
obra da artista, no entanto, é seu maior legado e parâmetro para muitas
discussões. Elis não era o tipo da cantora com postura comercial, seu repertório é exemplo
disso: comprometida com as questões sociais do seu país e consequentemente com a
universalidade da problemática das pessoas. Melhor é tê-la como instrumento de
pesquisa, distanciando-a do saudosismo que a envolve, causado pela comoção
nacional, que talvez, gradativamente, a consuma. No entanto, os registros póstumos
acrescentados sobre à obra da cantora, têm que ser encarados como objeto cultural, muito pouco de tietagem. Esses
engajamentos e sua independência musical são componentes, que somados à voz marcante, fascina a todos: “Amo a música, acredito que nem tudo está
perdido, creio no ser humano e na renovação do planeta”, declarou.
Essa
Mulher, o
disco, completou 30 anos em julho
de 2009, que além da música "O Bêbado e a Equilibrista" (João Bosco e
Aldir Blanc), ter batido de frente com o momento político vivido em 1979, valorizou
Cartola, apresentou Tunai e Sérgio Natureza e o histórico dueto de Elis & Cauby
Peixoto: “Estava indo a uma entrevista, quando ele cruzou em minha frente: é
esse…”, disse ao Pasquim (1979). O “Hino da Anistia” reivindicava a volta do
irmão do Henfil e a morte do jornalista Vladimir Herzog, contextualizando as
mazelas da repressão militar. Além do luto que as vestia, mães-Marias tinham
também corações torturados. Ouviam-se os gritos roucos ecoando dos porões, onde escorriam fecundas idéias mutiladas.
Elis,
em 1979, participou do 13º Festival de Jazz de Montreux: luzes cruzam a “Noite Brasileira” e as ovações abalam
o Cassino de Montreux. O Bruxo do jazz ordena ao piano, mas não intimida a
Pimentinha. O show passara por algumas oscilações vocais, mas ela volta ao
palco menos introspectiva, depois de “Mancada”, “Faca Amolada” e “Rebento(u)”.
Despira-se do longo vermelho, busto roxo-bispo e da orquídea azul-lilás do
figurino. Vozes a chamam muitas vezes: “Elis, Elis, Elis!..." Essas e outras
imposições a fazem ressurgir em
cena. Os olhos nos olhos travam duelo na noite: ela atende às
notas complicadíssimas de Hermeto e mantém-se indomável, invencível, cantando
as canções como se cada verso se avessasse. A plateia, insistentemente, não se
cansa... E, aos poucos, desvencilha-se dos aplausos que pesadamente a veste.
Produtiva paixão, a sua por Elis... Diferentes: a fala do amor e a fala da pura/impura crítica.
ResponderExcluirTenho cuidado com a cegueira da paixão, para o discurso sensato ir sobrevivendo. Obg
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