atriz Daniella Perez
Nas sombras mornas da tarde os pássaros encerram seu balé e executam a última sinfonia. Um velho arvoredo é palco e aconchego, onde eles se calam, pensativos e sem aplausos. Mas, à noite, a lua desabrocha no roseiral noturno e os desperta: personifico aquele rosto maquiado por Deus e escuto a recitação de um monólogo...
Agora passo devagar, na solidão da rua, à beira o rio: a lua-cheia está mais alta, acesa como um imenso salão. Procuro teus lábios na beleza fria do momento e escuto uma orquestra que ensaia... Mas ronca cuíca, mexem-se platinelas de pandeiro e alegria doida de tamborim. É o carnaval que vem descendo, mas não tem jeito: a tristeza se estende na várzea urbana.
Há melodia escorrendo de um Bandoneón: La Cumparsita deixa a dançarina com um pé na terra e outro na lua. Dia ou noite, qualquer passo pela casa é um Tristango, diz Pi(g)azzola.
Demoro: vagueio na larga fenda esculpida no serrote, onde um corredor de luz se abisma. Os meus sentidos estão mais terrestres. A lua branca, sonolenta, deita-se na ponte, que ainda se veste com a cal cinquentenária. Há vozes nostálgicas de seresteiros: dá vontade de dançar velhos boleros latinos e tangos de Gardel, alí mesmo, sobre a grama do alagadiço salobro. Mas a frieza me afasta para o centro da cidade. Entro no casarão e escuto os violões subindo a ladeira, empurrados pelo sopro da madrugada.
Ai que loucura: um tango na lua!... Pra mim, basta o título. A imaginação se solta.... bjs
ResponderExcluirPerigo faz é escorregar da lua, mas a dança é espiritual. Pensando bem, dá vontade de ir dançar esse tango. Hoje eu tô de lua. Bjs.
ResponderExcluirGosto do poema em prosa, dos seus, pois diferem muito da sua poesia, que é de um lirismo sóbrio e seco, contido e elegante, como exige o tempo atual; ali, você deixa fluir uma lírica mais eivada de subjetividade e emoção. Cabem os dois no meu escrínio de leitor.
ResponderExcluirValiosa visita, amigo. Suas avaliações me encorajam. É bom saber que te tenho como leitor.
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