quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Dança dos astros







Nesse dia tivemos que almoçar às pressas, por que ao meio-dia já estava escuro: o sol estava sendo engolido pela lua.  Tudo era visto à meia luz (ou à meia-lua).Viam-se os astros passeando, se roçando, no céu.  E ninguém explicava bem o que era, a assombração estava no rosto de todos. "Está nas Escrituras: são sinais do fim do mundo" - afirmava um vizinho. Lembro que meu pai disse a palavra eclipse: fenômeno tratado com medo pelos mais antigos, que tinham uma visão lendária sobre o assunto. 
No início do século XX, em 1914, o fenômeno foi total  e naquele mês, confirmando o mal presságio: teve início a 1ª Guerra Mundial. 
Ele era adolescente em 1939, morador da zona rural: vaqueiro aboiador, amansava boi a ferrão, tangia o gado à pastagem, puxava peito de vaca leiteira e outras obrigações da vida campestre... Relatou-me o camponês, que nesse dia muitos costumes noturnos foram antecipados: no terreiro, o galo se apresssava com seu canto urgente, recolhendo suas esposas ao poleiro, acendeu-se fogão à lenha e pôs-se mais querosene às lamparinas. As horas eram confusas e as trevas pareciam ser apocalípticas. Nessas comunidades rurais as informações  chegavam no "disse-me-disse": o rádio ainda era um veículo de comunicação precária, viam esses sinais no céu como se fossem a instalação do caos... E novamente se ouviu rumores de guerra: os nazistas, sob o comando de Adolf  Hitler, invadem a Polônia, iniciando uma sequência de atrocidades,  culminando com o genocídio de milhões de judeus, minorias étnicas e religiosas. 
Mas naquele dia, o eclipse anular do sol, transformou-se em espetáculo: a meninada correndo,  apontava estrelas, avisava a vizinhança... Hoje é que vemos com normalidade a dança dos astros, porque eles também copulam.



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