quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mercadores


























Os galos caducos
de cristas pensas,
acenam às amadas
sob sentenças.

Os galos desfilam
ladeados por carrascos:
olhar de prisioneiros
em cortejo de holocausto.

Os engaiolados
resmungam poemas:
rua de compradores,
passos de feira.

Os mercadores
carregam gaiolas:
galos à venda
em beco de trocas.

Os matadores
amolam peixeiras:
galos calados
com suas tristezas.

Antigos feirantes
cruzando mercados:
galos despidos,
mãos em gargalos.








segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Botija do Mercado São José


a Marcelo Amorim

Homem que sonhou com botija, marcou encontro com o desconhecido na porta do Mercado São José, no Recife antigo. Aquele mistério lhe impacientava, mas se manteve calado à espera da suposta pessoa do além. Um camelô ficou olhando aquele homem de poucos movimentos, sem ação, perdido na cidade: "O senhor já tem muitas horas aí parado, tem rosto amarelo de fome e olhos murchos de cansado, se carece de ajuda, responda sem cerimônia". O sol por trás dos casarões deixava as ruas debaixo de sombra. À frente das lojas de miudezas e cosméticos, vendedores anunciavam as últimas promoções e ambulantes gritavam o preço das bugigangas importadas do Paraguai, muito poucas de Maimi.
O sertanejo comeu tapioca com coco e milho cozido com manteiga da terra. Depois respondeu sem rodeio, porque segredo torna o fardo mais pesado. Não pensou em consequências: "Duas noites se passaram, depois de um sonho, daqueles que o sujeito jura ser verdade. Uma criatura sisuda - vestia calça comprida como essa, diferente apenas nas bocas frouxas e agitadas -, disse-me que minha sorte estava aqui no mercado, mas não falou se era dentro nem fora. Mandou-me ter pressa nas pernas, viesse em qualquer transporte... E já mostrei muito minha cara, de tanto ir e voltar, a todos esses vendedores e suas clientelas, mas ninguém me conhece por cá: nada aconteceu ontem nem hoje. E olhe que vim de longe (mas só fazia apontar...). Sou homem de poucas coisas e não preciso de tanto. Mas essa promessa me levantou as orelhas, por isso avancei nas léguas e demoro nessas horas, mas só espero por hoje. A sorte vem quando quer, tem jeito de gente lerda".
Antes que ele terminasse o falatório, o camelô resolve lhe tirar as esperanças, talvez penalizado com aquele homem acocorado, de pés roliços de inchaço, que de vez em quando estirava a ossada, com gesto de penitente: "Isso não existe, vá cuidar dos afazeres, que eu sei de história igual. Aconteceu comigo mesmo e garanto que era voz limpa, imitando gente viva, sem ter a fala enrolada, sinistra, de gente de outras terras. Moro no bairro da Encruzilhada e assim que me deitei, a cabeça ficou zonza: dita voz me dizia que havia um tesouro em sítio distante daqui, e me daria por dono, sem confusão de herdeiros. Disse-me a voz doadora, que eu me apeasse em Caruaru, seguisse para o norte em estrada de barro, que antes de um serrote branco haviam cinco umbuzeiros, virasse à direita e caminhasse quinze léguas ao poente... Coisa dada é mais difícil! Apontou a direção, sem dizer nome de município nem marcou o canto certo, ficou para ser descoberto pela pessoa donatária:  encontraria uma pedra graúda, cor de galinha pedrez, onde uma cabra nativa costuma se deitar. Debaixo da pedra a botija, com objetos brilhosos como o sol. Só não fez dar nome às peças, dizer quantidade nem valor. Aí calou-se de vez, apagou-se como coisa acesa. E toda manhã bem cedo chego aqui nesse mercado: abafado, cheirando à sola curtida, jabá, plantas e cascas de chá, temperos e incensos de candomblé. Mas de vez em quando me afasto um pouco: farejo o mar aí perto, olho os navios estrangeiros descarregando no cais e algumas pernas roliças que estufam das mini-saias. Esse é um negócio de pouca venda, mas faço feira desse apurado. Esse boato de riqueza fácil é assunto já encerrado. Ia eu me perder pelo mato, sem ter o canto traçado por linhas certas? Deu-me isso 'de boca', talvez já tenha dado a outro da redondeza, morador mais precisado - há poucas braças da botija -, também sem papel passado. E caçadores esfomeados já devem ter matado a cabra...”
O sangue subiu às faces daquele que estava descorado: "É, isso é mesmo ilusão, já vou deixar o mercado", apressou-se o viajante bebendo o resto d'água morna do cantil. Entrou na rua Direita, em direção à rodoviária do cais de Santa Rita, porque acabara de escutar do camelô – da boca de pessoa viva, vendo a língua se mexer, sem embaraço de sonho –, as referências necessárias: o sítio, a pedra e a cabra eram o cenário da sorte tão esperada. O lugar era seu pasto, passado a papel de escritura, caminho de todo dia, na divisa de Princesa, aceiro de Pernambuco. Ao chegar em casa não esbanjou alegria, animou, discretamente, o rosto. E cinco bois cevados moveram a pedra a chicotadas bem dadas, daquelas que deixam os lombos ensaguentados e os pescoços com calos, peladuras e marcas de cangas. Cavou dois metros de chão e arrancou um caixote feito de madeira de lei, enrolado com tiras grossas de borracha e batido com prego caibral. Um machado foi usado para abrir a lenha do "baú" e as moedas deslizavam das brechas, como milho debulhado, desabando pelas bocas dos silos. Por debaixo do colarinho de sua camisa de mescla, sobre o peito tostado pelo sol nordestino, descia um rosário de contas brancas e azuis. E a tarde ardente já se aninhava nos lombos das serras, quando ele ajoelhou-se e rezou, ali mesmo, no pedregulho misturado de ouro.  Não pensou em vaidades citadinas: entrou no galpão e guardou  mais de duzentos quilos de moedas, em quatro barris, junto com cangalhas, arreios, cabrestos e outros acessórios. Entrou no curral, cortou palma e abasteceu cocheira. Já anoitecendo, debaixo do pé de jabuticaba, pôs-se a banhar-se numa bacia de ágata, com sabão caseiro, feito de sola cáustica e vísceras. É chamado à mesa: branca de leite, amarela de xerém. E dele não se escutou alaridos, festejos, anúncios nem alegrias esfuziantes daqueles que enriquecem. A mulher obedecia às mesmas discrições e os dois filhos adolescentes não ousariam divulgar a novidade na vizinhança escassa, mas podiam trocar alguns cochichos e inibidos sorrisos. Descansou uma semana: selou um burro de raça e duas mulas de força, depois de encherem a pança com pasta de caroços de algodão. Dividiu o peso das moedas em quatro sacos de estopa, misturadas com castanhas de caju e dirigiu-se à cidade de Caruaru-PE. Traria novas moedas convertidas, com bustos atualizados, porque aquelas exumadas, tinham em suas faces bustos e brasões imperiais, mesmo que no início do século XX, o Brasil já estivesse sob e domínio inovador da República e as marcas do império estavam (des)enterradas. O brasão e o selo do país estavam iluminados pelas estrelas do Cruzeiro do Sul.

sábado, 26 de setembro de 2009

Banho Grego


Cachoeira da Capivara, município de Nova Palmeira-PB

Castelo Rural

Castelo na serra da Tapuia, município de Santa Cruz-RN, construído por Zé do Monte.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Pilão



Depois da safra ensilavam-se os grãos: armazenamento e reserva. O milho debulhado era misturado à areia, depois aguado. As pancadas da mão-de-pilão faziam o atrito e os grãos iam-se descascando: mungunzá.
Do café torrado no caco, com rapadura de engenho (e outras sementes adicionadas), nascia o pó que dava origem à bebida que aquecia as manhãs.
As plantas medicinais: alecrim, erva-doce, manjerona e manjericão, também iam-se triturando para os chás das curas.
Em revezamentos braçais,  pisavam-se carne-de-sol, jabá, temperos e  grãos de arroz-da-terra. No pilão da Casa Grande há marcas de duelos, de antigas mãos rurais e escravas. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Meninos do Sinal Fechado




Quando o sinal se avermelha
meninos fazem malabarismos:
equilibram laranjas, fachos acesos,
números circenses, improvisos.
Meninos que avançam em carros
pedem dinheiro, acendem charos:
calçadas são dormitórios
quando eles caem lombrados.
Planejam assaltos, cheiram cola,
dizem palavrões, brigam à toa.
Meninos rudes, não vão à escola,
aprendem a manusear pistola.


Candelábios



















   As cristas louras dos cactos são candelabr(i)os de luas.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Solilás

















Na serra o solilás derrama suas pétalas,
não sol de raios que explode: estrela. 
Esse sol vegetal tem pouca pressa: 
à sombra da pedra, descansa.

E arde mais que sol espacial: 
na caatinga, seus pêlos urticantes,
deixam a pele arranhada, crespa.

E de manhã, raios ultra-violeta
deixam a pele assentada, morena.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Cac(h)imbo(a)


Minha avó amanhecia insatisfeita, mas dirigia-se à cozinha, fogo acendia: “hoje eu tô rim, rim chamada rim”... "Ruim, doente do rim, vó?" Dizia: “Não, tô rim da cabeça. Amanheci de macacoa”. E emendava nas queixas: “Hoje eu tô bêba, bêba chamada bêba(da)”. E ia-se devagar, mãos nas paredes, resmungando pela casa-labirinto, teto-sótão desabando. Longa viuvez. Era tontice, zoada nos ouvidos, se instalando naquela mulher octogenária, de tantos serviços domésticos e rurais. Diagnósticos de hoje: labirintite, pressão alta, diabete... Eram desabafos dosados de chantagens, compensações.
Gente conhecida passando na estrada, indo à cidade, mandava parar: "Vê se chegou carta do sul, que há tempo não recebo notícia de filho".
Mas vinham as brincadeiras, dizeres e adágios populares: “Da palma nasceu palmito, / Do palmito nasceu palma, / Quero que você me diga / Quem entrou no céu sem alma?” Dizia que Cristo subira ao céu levando a cruz. Contava diversas histórias de Lampeão, Maria Bonita e seu bando de cangaceiros, ciganos, retirantes, tropeiros e o bumba-meu-boi: “O meu boi morreu,/ Que será de mim, / Vai buscar outro boi, / Maninha ô, lá no Piauí..."
Queixava-se de cegueira, visão monocular: enquanto mexia uma tigela de torresmo, um salpico de graxa de porco queimou-lhe a retina.
Os netos corriam, deslizavam no cimento liso da sala imensa, pulavam cercas, armavam balanços no pé de juazeiro, jogavam futebol: tantas brincadeiras diárias a impacientava: “Deixem de buzina!...” E ordenava, dando ocupação aos desocupados: "Peguem os galões e vão buscar água no açude: quero ver tanques e potes cheios, depois separem os bezerros dos úberes..." Em momentos menos tensos, ela prendia o coque do cabelo com garras artesanais feitas de arame e dirigia-se àquele menino mais comportado: “Faça um café forte, bem coado - torrado com rapadura, em tigela de barro -, traga o cachimbo e o fumo que 'tão na meia-parede da despensa". Destampava a lata e começava a retirar a cera impregnada (resíduo de nicotina). “Oxente, fumar pra ficar mais tonta, vó?" Respondia: "Só saio  de casa em fim de mês, p'ra ir missa no 'Jerimum'. Essa fumaça é meu espairecimento”: pofo, pofo, pofo... O fogão à lenha conservava pequenas brasas soterradas nas cinzas, que ela ia catando com os dedos encalejados, arremessando-as ao cachimbo, formando outra fornalha, justificando: “Tem gente que pisa em brasa e não se queima..."
E assim foi, até cair doente e perder toda a fortaleza que a envolvia. Não dominou mais os sentidos: o esquecimento se  instalou em tudo, mas não fazia esforço na lembrança para pedir o cachimbo intuitivo, às vezes negado por precaução a sua saúde estreita.
Manhã me trazendo da cidade: entreguei-lhe um buquê de flores brancas, mais belas do que cheirosas e logo se lembrou do pé de bugari: “Já tive disso aqui, plantado na biqueira”, resumiu a matriarca – olhar horizontal para o norte, triste e embaçado pela catarata –, gesto vegetal sobre o colchão de capim: bramante com estampa floral, costurado com barbantes.

Morte no cosmo


Chamam-na de morte – substantivo abstrato, contrário de vida –, mas está viva e solta por aí, anônima no mundo, agindo na surdina com seus crimes, promovendo chacina e holocausto. Condenada por todos, mas sem mandado de prisão decretado, apenas o retrato falado da imaginação... É mulher que não se prende, Morte que nunca morre.
Entre todos os viventes da terra, apenas o homem sabe que morrerá. É a brecha que temos para trabalharmos a interioridade. A expectativa da morte é de aniquilamento, caos que se converte em lição de vida: “se as flores soubessem que morreriam num curto espaço de tempo, jamais nasceriam” – disse-me um filósofo conhecido, antes de subir os degraus da eternidade. De onde vem a morte – inimiga oculta que amedronta – que nos alerta com a morte dos outros? "Velha da Foice" – o apelido – , perdura até hoje em brincadeiras de terror e nas revelações das cartas de tarô: foice-símbolo, gesto de carrasco, agouro.
Nos crimes contra a humanidade e outras perversidades, a morte não foi mentora, porque ela habita na região brutal dos homens nem a lâmina da guilhotina desaba do céu. A morte não tem nenhum plano, por depender do plano dos vivos. A morte está por aí atormentando a vida, surpreendendo, seqüestrando, matando até quem está em perfeito estado de saúde. Doente grave pede para morrer, implora por sua compaixão, mas ela não perde a pose de superiora e responde em silêncio: "Não chegou a hora", parece deusa de um planeta macabro. Inimigo furioso deseja a outro: "ah, se tu morresses!” E em situações parecidas, ouvimos: "Para esse criminoso só a morte traria paz à rua”, "ele procura a morte”e “na morte somos todos iguais”. Boêmio canta, fuma e se embriaga: “Bebo sim, estou vivendo, / Gente que não bebe está morrendo...”
O amanhã é imprevisível e o mais são curiosidades, dúvidas que nunca se confirmarão, nos mistérios que envolvem vida e morte, porque uma depende da outra, coexistem. Não haveria portanto, o preto sem o branco... Os céticos não hesitam em dizer: "morreu, acabou-se". E os mais esportivos com o assunto ironizam: "Quem morreu não veio nos contar...". Esquecem, portanto, que Cristo conversou com os apóstolos depois de sua morte: "Sou eu, vejam as chagas"... E ao longo dos seus ensinamentos enfatizava a ressurreição: “Aquele que crer em mim, ainda que esteja morto viverá”, “Na casa do meu pai há muitas moradas”. Ladrões mutuamente se acusam no desespero da cruz: “Cala-te, não vês que morremos pelos nossos crimes?”  E ouve de Jesus a promessa de vida após a morte: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. De tão temível, a algoz fez o próprio Cristo sentir angústia e abandono à hora última, chamando pelo pai: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" O sumo sacerdote alertou: “É preciso que só um homem morra, para que todos não pereçam".
Nas páginas que iniciam o livro “Memórias de Adriano”, da escritora belga Marguerite Yourcenar, o Imperador Ellius Adriano escreve ao amigo Marco Aurélio, falando de sua saúde sob os cuidados do médico Hermógenes: “Perdoo a esse bom servidor a tentativa de ocultar-me da morte. Podemos morrer a qualquer instante, mas um enfermo sabe que não estará vivo em dez anos.” O poema que se segue é uma epígrafe do livro, que tem conotação dantesca, atenuada pela beleza dos versos: “Pequena alma, terna e flutuante, hóspede e companheira do meu corpo, vais descer aos lugares pálidos, frios e nus, onde terás de renunciar aos jogos de outrora.”
Em todos os casos, a morte personificada, é uma serpente traiçoeira, sorrateira, cercando e nos assustando em meio a acontecimentos do cotidiano: gripe, febre, cirurgias, viagens e todo tipo de incidente/acidente. Morte-mulher-imaginária, monstro-criatura lendária, nome repetido em noticiários, assassina diária dos seres vivos. Crimes encomendados de morte involuntária, alguém decide a morte dos outros, que deixa de ser uma guerreira voraz das brenhas do universo – bruxa sisuda, assustadora, golpe certeiro –, para se aliar às decisões humanas, terrenas, nos levando a pensar que não é a Morte quem decide a morte.
Em atestado médico lemos que a causa mortis foi morte natural: pneumonia, parada cardiorespiratória, traumatismo craniano, asfixia, falência múltipla dos órgãos. Indivíduo que teve morte violenta, é submetido à necropsia: enforcamento, acidente na estrada, homicídio, overdose... Mas são modalidades do acontecimento, por que morte é qualquer uma: é um fato, fatalidade, conseqüência. Morre-se a partir do nascimento, como contagem regressiva. Um adágio popular simplista resume essas avaliações: "morreu quem estava vivo". Durante uma cerimônia de casamento – perante a convidados –, ouve-se a declaração que pretende assegurar a união: “até que a morte nos separe”. E segundo a crença popular – fato comprovado –, não deve se casar duas irmãs no mesmo dia porque uma delas morrerá.
Uma história de amor que terminou em tragédia, envolve duas famílias tradicionais de Verona, Itália. A rivalidade entre Capuletos e Montecchios, do dramaturgo inglês William Shakespeare, leva Romeu e Julieta ao suicídio. “Oh, minha única filha, reanima-te, olha para mim, ou deixa-me também morrer contigo! Estes lábios e a vida há muito tempo separados já estão. A morte se acha sobre ela como geada mui precoce sobre a flor mais gentil de todo o campo” – clamam o senhor e senhora Capuletos. Mas Julieta apenas está narcotizada, aparentemente morta e ao despertar, depara-se com a inacreditável cena de Romeu, morto, no mesmo túmulo e se deixa traspassar por um punhal. Morte planejada é aquela que o sujeito decide, voluntária: suicídio. Se desligasse os aparelhos, a morte aliviaria o sofrimento de alguém desenganado pela medicina: eutanásia. A pior delas é aquela que vem súbita, mansa, rápida, implacável, levando também os que ficam... Mas tudo são suposições, vãs afirmações, indagações de simples mortais peneirando seus remorsos, porque ninguém vem invisivelmente nos matar, morremos como mudança de estrela cadente, sozinhos sob o olhar paterno de Deus, que ordena: “Morrerás somente uma vez”, polemizando a tese sobre a reencarnação, defendida pela comunidade espírita.
Se a morte fosse essa mulher solitária, maquiavélica, arma em punho, promovendo atrocidades, seria uma rainha poderosa e covarde, deusa diabólica dominando o cosmo e a humanidade, discípula de malignas falanges espirituais, subestimando o poder absoluto de Deus.
Disse-me um pensador antes de morrer: "A morte ninguém a imagina bela, porque só o mal lhe traduz. E noutra dimensão é um trancelim de ouro maciço, com novelos cintilantes de néctar, cravejados de flores de diamantes magnéticos, amarrados nos dedos de Deus, que resgata as almas, guiadas pelos colibris luzentes da aurora boreal. Nós somos sinais luminosos, partículas falantes, onde a foice é imaginária e a morte é cósmica".

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Hino ao sol

 

  ocaso da serra das Flechas, município de Pedra Lavrada-PB

“Hino ao Sol”: escrito por Akenaton (aquele que agrada a Aton), também conhecido como Amenófis IV? Aton é uma das variantes do nome do deus Sol. É possível ler a seguinte descrição:..."E assim ocorreu que, encontrando-se o faraó na caça do leão, em pleno dia, seus olhos avistaram um disco brilhante pousado sobre uma rocha, e o mesmo pulsava como o coração do faraó, e seu brilho era como o ouro e a púrpura. O faraó se colocou de joelhos ante o disco".

No III Hino o faraó continua a narração dizendo:
" ... Oh, disco solar que com teu brilho ofuscante pulsas como um coração e minha vontade parece tua. Oh, disco de fogo que me ilumina e teu brilho e a tua sabedoria são superiores a do Sol."
Depois dessa visão, o faraó mudou seu nome para Akenaton e decidiu transformar a religião egípcia de politeísta (crença em vários deuses) em monoteísta (crença em apenas um ser supremo).
E escolheu como Deus supremo Aton, o deus sol.
Os sacerdotes protestaram, mas enquanto Amenófis IV estivesse no poder, ninguém poderia fazer nada.
Após seu assassinato, o Egito voltou a ser politeísta, e os sacerdotes amaldiçoaram Akenaton, apagando todos os vestígios da sua existência.
Mas no livro “O Egípcio”, escrito pelo próprio “Sinouhé”, que assassinou Amenófis IV, é relatado a visão do faraó.

domingo, 20 de setembro de 2009

Cristas da serras

                  















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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Flor de cacto




















Flor de cacto ou lírio da caatinga? O cardeiro arde ao sol e sua veste ausenta qualquer carinho, mas o lagarto Teju retira sua seiva, quando busca cura... A flor sertaneja rebenta na contradição, depois murcha-se para tornar-se fruto: pronto pouso de ave agreste.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Flor de lótus dos sertões

Logo que chove o Aguapé brota em poços, barreiros e açudes. Suas folhas espalhadas são pistas de aterrissagem onde pousam garças e jaçanãs. Parece muito com a Vitória-régia, do Amazonas. É a flor de lótus dos sertões.

Quero-Quero (não Fernão Capelo Gaivota)




















Fernão Capelo Gaivota, livro lançado em 1970
por Richard Bach. O Quero-Quero tem variação de nome.
No nordeste o chamam de Te-Téu, originado de sua gritaria:
"té, té, té, téu..." Ou: "quero, quero, quero..."
Não se sabe se é espanto ou festejo esse frenesi de tantos quereres.
É ave que pouco dorme, está sempre em vigília, denunciando.
Outras características: do chão ao céu, nunca pousa em árvore,
ninhos escavados no chão, quase coruja. E há o dizer:
"passei a noite em claro, como Te-Téu".

Ouriço da serra




Coroa-de-frade: em serras e serrotes elas se alastram como verregugas. É um vegetal ouriçado como o animal roedor, mas todos são inofensivos, traiçoeiros quando não se dá passadas atenciosas... Há outra espécie, de espinhos retos, que melhor parece com o Ouriço.
Sua flor é minúscula, que pouco cabe beijo de Beija-flor. E os frutos, dulcíssimos, são pequenos cones atraindo a passarada.

Sangue de Pedra

Rupestre do sítio "Porteira", município de Nova Palmeira-PB
                        
           
                           a Nivaldete Ferreira

Em 1969 meu pai buscava uma árvore rara, o Pau D'arco. Falava-se em remédio do mato, hoje fitoterápicos. Mas haviam outras plantas: Mororó, Cumaru, Quixabeira, Angico... Quando descascadas, vão-se desbotando no molho d'água: saram doenças de dentro. E subimos a serra com suas armadilhas, sem nenhuma vereda, apenas os caminhos finos e sutis inventados pelos calangos. As macambiras exibiam seus pendões amarelos e os pássaros desafiavam xiquexiques e facheiros, atraídos pelas frutas vermelhas.
 Já chegando no cume da serra: "Vou lhe mostrar a casa dos índios", nome genérico à primitividade do homem. E suas mãos de carne couberam nas outras mãos de pedras: "Eram mãos de homens como eu", fazendo medição, sobrepondo o sangue-mineral com as falanges dos dedos.
É um lugar de silêncio e mistério. Retornei à casa com um feixe de taquari, para fabricação de gaiolas. Meu  pai achara o madeiro da viga e as cascas que curam.
Anos mais tarde criei coragem e fui sozinho escalar a serra. O trajeto exalava misticidade: som de folhas secas nas alpercatas, a música do vento e a velocidade dos seixos que desabavam. Lá em cima conversei com o universo, escutei vozes vibrantes subindo pelo poente da serra: eram legiões de espíritos buscando o acampamento. Intuitivamente senti a presença de Dom Juan, que me alertou sobre alguns perigos e tive que descer no desaparecer do sol. O velho índio que misturava plantas alucinógenas, descrito por Carlos Castañeda, desencarnara e muitas vezes eu imaginei está sendo seguido pelos olhos do bruxo. Onde caminham poucos homens, é onde habitam tantos outros seres. No pé da serra ainda havia restos de sol: descansei no umbuzeiro e fui me libertando daquelas informações ilusórias, ainda emocionado, quase em transe.
Hoje escuto o chamado da serra, mas dessa vez irei senti-la com passadas curtas,  sem a marcha suicida de me encontrar.  Hei de rodeá-la pelo nascente, desviando a trilha das pedras dos sacrifícios  e das locas mal-assombradas de um sepulcro. Não quero a proteção de facas na cintura nem de foices esfolando o mato: seguirei o  cheiro  das flores cactais,  as vozes dos saguis e os apitos indicadores de cigarras. Desejo muito esta manhã,  quando sentarei junto do bebedouro cristalino e milenar, por debaixo das pedras esculpidas. Ninguém conhece esse lugar: meu pai só me indicou, talvez deixando-o para o dia em que  a solidão não fosse nenhum tormento. Alí não lembrarei de nada do que ficou em baixa altitude, execeto a presença viva do meu pai que não pôde mais me acompanhar.  Então rezarei o salmo  23 e um poema que trago decorado.

 


Ocaso por acaso


  



Serra das "Flechas", município de Pedra Lavrada-PB

Outubro outonal de folhas amarelas
caídas no chão ardente. 
Juremal campo de cinza: 
sertão de chuvas temporárias.
O sol desmaia no colo da serra,
recolhe-se ao sono aparente dos astros.

Dança do Sol

 
Sol que nasce: frevo,
sol que morre: bolero... 
Quem demora em Ravel
viaja  no ritmo do sol. 
Quem escuta esse Bolero
não se cansa: deixa o sol
executar sua dança...
A estrela afoga-se no mangue
no silêncio do Rio Sanhauá
e as cortinas do crepúsculo
encerram espetáculo divinal:














 


Pedra escrita


A primeira linguagem: escrita labirinto, pedra talhada à pedra.

Reino Grego


























Banho-me nessa água empoçada morna de sol,
unto-me da mistura mística de minério e lodo:
alquimia vulcânica, onde um deus se emoldurou.

Bobo da corte Eli(fa)s




Chuva de sol



















Quem mora em lajedo é lagarto,
quem pula em açude é menino
inventando salto (solto, alto), sapo.
Depois da chuva chove sol:
sangria fugindo a galope,
queda d'água, zoada de sangrad(ouro).


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Boca de Fogo


Dona Salvina ganhou casa nova na cidade, mas vive querendo voltar a morar no sítio. Casa de barro batido, construída ao pé da serra, cisterna na lateral (antes água salgada de cacimba) e a liberdade da vida campestre, sem ruas de casas numeradas, perigo à cada esquina limitando os passos. Nasceu, criou-se e viveu no cariri . Diz que não teme a ataques de abelhas, formigas, raposas nem de cães bandoleiros rondando o terreiro, quando está povoado por galinhas: gaviões maiores, frequentemente, pousavam no chiqueiro e roubavam essas aves. Não dá ouvidos ao assombro das notícias: assaltos na região, principalmente a agricultores aposentados. É simplista em dizer: “Isso é conversa, ladrão tem em todo canto, na minha casa não vão não”. Nenhum mal acontece (ainda bem). Os filhos ficam buzinando em seus ouvidos: “tome o remédio (duas pílulas diárias) na hora certa”. E ainda não cessaram as transferências de troços em desuso: latas estampadas e coloridas de panetones, bolachas, bombons, lembranças de antigos presentes, que enfeitavam paredes e atajés. Os hábitos rurais também a acompanharam, não cumpre nenhuma regra citadina. Tarde dessas chegou com uma caixa cheia de roupas amofambadas nos últimos vinte anos, misturando desculpas: “Tenho saudades das roupas que meus filhos vestiam quando crianças”. Disse que eram retalhos em retângulos, quadrados e tiras de tecidos, para confecção de tapetes, estolas e cobertores. Isso sim, porque na cidade não se usa roupa remendada: a cidade é quem precisa deles, na costura dos buracos administrativos.
E por lá ficou, desmoronando, uma máquina de pé da marca Singer: o que é de ferro permanece, mas o móvel (de madeira) virou um colméia de cupins. Chico Modesto, seu esposo de 85 anos, hesita em voltar ao sítio que tanto se esforçou para comprá-lo na década de 60: muitos quilos de minérios – colombita, chapa, bloco, berilo - bois cevados e duas vacas-matrizes e leiteiras, completaram a quantia da compra e se dirigiu ao cartório para lavrar a escritura. “Não posso mais com os serviços pesados”. A coluna vertebral não aguenta mais os feixes de capim e lenha, os sacos cheios das colheitas. Mas ele pouco reclama, embora se veja que ele sofre os reflexos da idade avançada. Desfez-se de uma parte de terra em troca de um aparelho de televisão, com antena parabólica. A maioria dos agricultores tem eletrodomésticos com o advento da energia elétrica rural, mas está decidido: “Ela querendo volte, eu fico na 'rua' com meus filhos, daqui para o cemitério”. Dona Salvina insiste: “Qualquer dia vocês vão ver um caminhão parado à porta, levando meus troços. Ninguém vai impedir”.
Na casa da cidade tem pia de mármore, água corrente, chuveiro...  Evita usar o fogão a gás, com quatro bocas, exigiu um fogão à brasa, atribuindo preço alto do bujão e confusão no manuseio dos botões com sinalizações complicadas: "Esse danado engole um bujão todo mês. Quero um fogão à brasa". Depois de pronto acendeu duas ou três vezes e desprezou-o, querendo construir uma área de serviço: “E quero outra 'boca-de-fogo' maior, feito com mais capricho. E um espaço maior para essas coisas, a casa é muito apertada”... E mais alguns palavrões do cotidiano. Está lá, a "boca aberta", pedindo brasa, sem saber o que é fogo nesse inverno. Fogão-lareira? Ela alega que irá aumentar o consumo de carvão com a ventania que descamba da serra, já pensando numa "boca de fogo" menor: “Vou comprar daqueles fogões d'antigamente, feitos por louceiras. Aí terá fogo aceso, carne de sol na brasa. Por isso que é melhor morar em sítio. O fogão de lá é alto,  duas bocas de ferro, labaredas clareando a cozinha". Diante dos subterfúgios e com tantas "bocas" apagadas, supõe-se que falta comida à mesa. Frequentemente rememora os cansativos fazeres rurais, lutas infindas, domésticas: "Gosto de buscar lenha seca, gravetos pra fazer fogo, água limpa de beber ... Ah, meu terreiro rodeado de rosas dália, benedita, margarida, chorão, boa noite, nove horas!...”
Por isso que à frente da casa da cidade, tem até flor plantada entre paralelepípedos. Latas e vasilhas cheias de “comigo ninguém pode”, espirradeira, lírio e jasmim, que não se pode nem passar pelo pequeno terraço. A casa fica à beira da estrada estadual, a leste, rua de aceiro - um corredor ecológico na micro-região da serra da Borborema – caminho migratório de jibóias, tatus, tamanduás e gatos selvagens. Anos atrás via-se até jaguatirica.
Não escuta nenhum conselho nem faz acordo e suas reclamações são cansativos sermões e intermináveis ladainhas.

Trapézio da Madrugada




No poleiro da alvorada
os galos celebram a vida
em terceira dimensão,
procurando cometas.
No trapézio da madrugada
eles beliscam estrelas:
céu-ouro-chão matinal,
imaginária colheita.
luzentes como palhaços
em luzes acesas de circo:
na corda-bamba do espaço
aurora boreal avistam.
Eles cantam na hipnose
dessas veredas celestes,
alheios aos carrascos
amolando beiços de foices.

domingo, 13 de setembro de 2009

Açude




Conheço bem essas águas barrentas, carregadas de paul. Nos primeiros aguaceiros ouve-se a serenata dos sapos coaxando. Lembro-me do menino anfíbio inaugurando as águas.  As rãs executam um bailado e as jias põem-se a cantar um dobrado agourento: juntas, cantarolam a música que antecede a cópula aquática, núpcias. Meninos afoitos não enxergam os riscos e projetam saltos mortais, mergulhos quase suicidas. Dizem os mais antigos:  águas represadas, aparentemente adormecidas, permanecem correntes, vivas e traiçoeiras. E o irmão mais velho salvou o menino do afogamento, do abraço mortal da mãe-d'água. 












Hollywood à venda


















Admiro antiguidades: móveis, peças de bronze e prata, tapetes persas (ou equivalentes), que em antiquários custam verdadeiras fortunas. Não precisa somente luzir para cair no meu gosto: o fosco guarda excentricidade e a pátina dá um toque clássico, enobrece os móveis. O fabricante não é necessariamente o artista, mas aquele que transforma, com criatividade, o usado. À rigor, todo trabalho manual é arte, o que não podemos dizer com os industrializados... Não sou colecionador, mas compro alguma peça indicada, se for a baixo preço.  É preciso que qualquer coisa exposta à venda, esteja bem localizada, por trás de um atendimento convincente. As coisas usadas, no entanto, sem o zelo de  mãos restauradoras,  não passam de "tranqueiras" empoeiradas em galpões ou mendigando vendas por trás de balcões desarrumados.
Hollywood anuncia um mega leilão para vender seus exuberantes cenários, onde são encontradas muitas relíquias: o que compôs o glamour no cinema. Transitando pelo galpão quilométrico, gente de diversas nacionalidades, vê-se a variedade de objetos: carros e móveis de época, estátuas, porcelanas, prataria, réplicas de pedras preciosas, cristais, sarcófagos e ataúdes, jóias, roupas e a exuberância de um submarino. Mas o que não foi visto, à venda, no rico bazar hollywoodiano, foi um par de olhos, cor de violeta, usado pela rainha do antigo Egito, no filme Cleópatra: os olhos (não postiços) pertencem à diva Elizabeth Taylor e não têm preço. No acervo cinematográfico se destacam as louras perucas, echarpes e scarpans usados pela atriz Marilyn Monroe, mitificada não somente pela estreia de um invedável calendário nem pelas atuações em “Nunca fui Santa” e “O Pecado Mora ao Lado”: sua morte prematura, aos 36 anos de idade, encerra a carreira nebulosa da endeusada estrela sex simbol dos anos 60, eternizando-a. As sandálias douradas de Grace Kelly, atriz-princesa –  que deixara as telas para viver um conto de fadas no principado de Mônaco – foram compradas por um estilista francês. Uma senhora com traços elegantes, descendente da aristocracia argentina, se agradou dos óculos que pousaram no rosto da eterna Sofhia Loren, atriz italiana. Uma comediante americana levou, por poucos dólares, um dos chapéus que, imponentemente, usara Scarlett O`Hara, personagem marcante vivido por Vivien Leigh, em "E o Vento Levou", ao lado de Clark Gable, de quem pertencera um cachimbo de marfim e ouro, vendido por considerável quantia, logo na abertura do evento. De Marlon Brando, o homem mais belo do cinema, à época, tinham ternos, gravatas, relógios, chapéus, bonés, atraindo o público masculino. Quem visitou a exposição não saiu de mãos abanando nem de cigarro apagado: leques e isqueiros custavam apenas dois dólares. Hollywood à venda? Essa cidade é negócio pra cinema. 



Dama da Noite
















A bolandeira é uma crista
que deixa a lua pensa.
E os galos cantam à bela
e distante dama da noite
antes que o amanhecer
acorde a morte-foice.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Abismos das Serras


As serras carregam a lua
dos braços frios das águas.
A lua deixa o mar de navegos
e se arrancha no mato seco:
vem arrastando sargaços
para esta terra de cactos,
alumiando os mortos, vivos
em galhos, folhas, estercos.
A lua se abisma nas serras,
em pedras agudas, espetos,
iludida pelas malacachetas
luzentes como as maretas.

Exílio da Tarde



















Reflexões no ocaso das serras:
"alguns aspectos de minha vida
assemelham-se às salas desguarnecidas
de um vasto palácio"...
E meus olhos se afogam
nas luzes abismadas deste exílio,
penso-te e me abandono:
imperador chorando Antínoo.

Dança das Garças

               



            








    

               I
Lençóis brancos voam
na dança da secagem,
(parecem garças em treino)
presos às garras do arame.

            II
As magras garças
voam do arame do curral
às copas dos arvoredos:
ornamentação floral.
           III
São lenços abandonados
à beira das águas do lago:
bandos arribam, mudança 
em manhã de céu nublado.












          

Marlon Brando

foto sem crédito


O cinema perdeu o ator Marlon Brando há muito tempo recluso em sua ilha. O homem mais cobiçado de Hollywood, rememorado por sua atuação em "O Último Tango em Paris", "O Poderoso Chefão" entre outros filmes. Passam os homens, no entanto, suas invenções se  eternizam.